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domingo, 27 de novembro de 2011

Fotografias do Morais Soares





O Morais Soares, que era o “patrão” das transmissões da CArt 738, enviou-me as fotografias que publico hoje, e que lhe agradeço.

A fotografia de cima mostra-nos a equipa de transmissões, que fazia milagres para conseguir que alguns dos velhos e cansados rádios, se mantivessem operacionais.

Da esquerda para direita, temos o primeiro-cabo operador cripto Dias, o "Setúbal", o furriel-miliciano Morais Soares, o primeiro-cabo Custódio, o primeiro-cabo Bastos (?), o primeiro-cabo Sousa, e o primeiro-cabo Nogueira (?).

Embora não me recorde deste local da povoação, não tenho dúvidas de que a fotografia foi tirada em Lucunga, porque o Morais Soares está de chinelos havaianos, devido a uma micose renitente, que o impediu durante muito tempo de reforçar a nossa equipa de futebol.



No intervalo do jogo de futebol a que me referi em “Um Domingo Singular”, o comandante do BArt 741 deixou-se fotografar na companhia de um grupo de militares da CArt 738.

Da esquerda para a direita, temos o furriel-miliciano Morais Soares, o furriel-miliciano Rodrigues, o segundo-sargento Ferreira da Silva, o furriel-miliciano Abreu, não sei quem é o fotografado seguinte, que não pertencia à CArt 738, depois, impecável na sua elegante farda de passeio, o primeiro-sargento Ramalho, o alferes-médico Salazar Leite, o comandante, tenente-coronel Soares, o alferes-miliciano Morgado, o alferes-miliciano Casimiro e o furriel-miliciano enfermeiro Fernandes.




Apesar de ser um dos fotografados, não sabia da existência desta foto, que foi feita na Gabela, como o comprova a indicação “Foto Branco” (que mencionei aqui) que aparece em baixo, à direita.

Não consigo identificar nem o local da cidade, nem o evento a que estávamos a assistir. À primeira vista parece ser um jogo de um dos torneios futebol de 5, e é essa a opinião do Morais Soares. Mas tenho dúvidas, sobretudo porque não me recordo de existir uma bancada parecida com esta no recinto de jogos na Sede do ARA.

Na foto apenas consigo identificar, assinalados com as letras A, B e C, o Vaz, eu próprio e o Morais Soares.

Os restantes espectadores são civis, residentes na cidade, mas, embora um ou outro rosto me pareça familiar, não consigo identificar nenhum deles.


terça-feira, 22 de novembro de 2011

ARA-Associação Recreativa do Amboim



Sede da Associação Recreativa do Amboim, pós-independência, em ruinas


Sede do ARA, reconstruida

A Associação Recreativa do Amboim, habitualmente designada pela população como o ARA, era a principal agremiação associativa da Gabela, estando a sua actividade voltada, não só para a componente recreativa que justifica o seu nome, mas também, e não menos importante, para a desportiva.

Quando a CArt 738 chegou ao quartel da Sétima, na Gabela, vivia-se na cidade um clima de grande euforia, porque a equipa de futebol do ARA tinha subido ao principal escalão do futebol angolano.

Dessa equipa faziam parte alguns militares da Companhia que fomos render, tendo ficado na Gabela e no ARA , depois de desmobilizados, três desses camaradas: o Cipriano, avançado-centro (como então se chamava ao actual ponta de lança) de grande qualidade, que era muito popular, sobretudo entre a juventude feminina local, o Júlio e o Carlos Afonso. Estes dois, além da ligação ao futebol do ARA, continuaram na Gabela por razões do coração, tendo o Júlio casado com uma moça gabelense, nesse ano de 1966.

Pouco depois de nos termos instalado, apareceu no quartel um dirigente do ARA, o Sr. Carpinteiro, responsável pela secção de futebol, que vinha convidar a equipa da Companhia para disputar com o ARA um jogo amigável, que serviria de treino, no campo da Aricanga, onde jogava o clube.

O que nós não sabíamos ao aceitar o convite, era que do desempenho nesse jogo – que o ARA venceu por 3-1 – viria a resultar um convite a metade da equipa da CArt 738, para fazer parte do quadro de jogadores do ARA.


Campo da Aricanga (esta bancada não existia em 1966)
(Foto de Rui Santos)

Apesar dos reforços, praticamente profissionais, que o clube tinha contratado para fazer face às exigências da nova realidade desportiva – com alguns nomes sonantes ao nível regional, dos quais se destacava além do Juca, um defesa-central, salvo erro do Portugal de Benguela, que tinha impressionado de tal modo os responsáveis da Académica de Coimbra contra quem jogou durante uma digressão desta equipa por Angola e Moçambique, que integrou a equipa durante os restantes jogos dos academistas, o guarda-redes Lima, do Sporting do Lobito – o Oliveira, o Rebelo e o Peixoto, eram presença efectiva nos jogos que o ARA disputou até ao fim da nossa comissão de serviço.

Além destes camaradas, fizeram parte da equipa, o guarda-redes Custódio – que na minha opinião (e não só) era melhor do que o Lima, mas havia que justificar o custo da transferência deste, bem como o seu vencimento mensal, enquanto o Custódio era totalmente amador – o Resende, o Brandão Pacheco, e eu próprio (para minha surpresa, que até saí, lesionado, durante a segunda parte do referido jogo-treino).

Nessa época, o ARA viria a fazer um campeonato surpreendente, com resultados inesperados, como, por exemplo, a vitória sobre o ASA – então o campeão crónico de Angola – em Luanda, ou empate, também em Luanda, com a forte equipa do Futebol Clube de Luanda.

Vivia-se, por isso, um período de grande euforia desportiva, na Gabela, com muitos gabelenses a encherem o campo da Aricanga, ou a acompanharem a equipa nas suas deslocações.


Ringue do ARA, situado nas traseiras da sede.
Aqui disputavam-se os jogos dos torneios de futebol de 5


A vertente recreativa do clube consistia, sobretudo, na realização de animados e concorridos bailes.

No ano de 1966 quase todos os bailes foram abrilhantados por um conjunto musical local, de cujo nome não me recordo, lamentavelmente. Mais lamentável ainda porque me recordo perfeitamente da depreciativa designação da autoria de um dos meus camaradas, quiçá injustamente, e pela qual passámos a nomeá-lo: “Toca toca, que hás-de aprender!”

Nem sequer o nome do seu simpático vocalista, me ficou, embora a minha perversa memória não tenha esquecido que lhe chamávamos “Conde de Mont'Ana”.

Irreverências que a juventude talvez ajudasse a explicar.

E, a propósito dos bailes do ARA, quero deixar expresso, como forma de reconhecimento, um exemplo da generosa hospitalidade com que fomos recebidos pelos gabelenses.

No primeiro baile, descobrimos, quando entrámos, que havia ceia, com acepipes que cada família trazia de casa, sendo as bebidas fornecidas pelo bar do clube.

Sem família, nem casa, eu e alguns dos meus camaradas presentes no baile, ocupámos uma mesa, onde, solitárias, apenas tínhamos as imprescindíveis Cuca ou Nocal, enquanto, em redor, as mesas se iam enchendo com as vitualhas confeccionadas nas cozinhas locais.

Mas a solidão das nossas cervejas duraria pouco. Não tardou que a mesa se fosse compondo, fruto da solidariedade geral, que acabou por encher a nossa mesa de petiscos em quantidade bem maior do que aquela que éramos capazes de consumir (apesar de, nesse tempo, o estômago de alguns de nós parecer furado. Sobretudo se nos agradava o que vinha para o prato.)

Este não foi um caso isolado. Sempre que havia baile, com ceia, já sabíamos que não precisávamos de forrar muito o estômago ao jantar. Havia que deixar espaço.


Mas o mais divertido era o baile propriamente dito, bem como o excepcional ambiente daqueles serões.

É certo que os nossos 23 ou 24 anos também ajudavam. E de que maneira!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Fotos do António Passarinho (III)




Termino hoje a publicação das fotos que o Passarinho me enviou, esperando que esta não tenha sido a sua última colaboração, que agradeço.

Na foto de cima abancam, bem dispostos, o Pereira, mais conhecido por Pinóquio, o Passarinho e o Daniel. Embora a chipala me pareça familiar, não consigo lembrar-me do nome do camarada que está de tronco nu.

Como já escrevi em texto anterior, o Passarinho e o Daniel “oficiavam” na messe, e aqui devem ter providenciado um petisco extra-programa.



Esta fotografia deve ter sido tirada a bordo de uma GMC. Não me lembro dos nomes de todos eles, pelo que ficarei grato se alguém com melhor memória vier em meu socorro.

Nas mão de um dos fotografados pode ver-se um dos garrafões de vinho verde a que me referi neste texto.

Aqui ficam os nomes de que me lembro (creio que todos eles eram  condutores-auto):

1 – Passarinho; 2 – Lobo (1325); 3 - (?); 4 – Daniel (?); 5 – Tavares;6 – Oliveira; 7 (?); 8- (?); 9(?);




Esta fotografia deixa-me um tanto intrigado. Parece-me identificar nela alguns dos militares da minha secção, mas não sou um dos retratados, nem sei em que circunstâncias foi tirada.

Em cima deste velho jipão da 2ª Grande Guerra, estão:

1- Nunes da Silva; 2 – Mourão; 3 – Passarinho; 4 – Morgado(?); 5 - (?); 6 - (?); 7 (?); 8 – João Silva (?); 9 – Cerqueira (?); 10 - (?); 11 - (?);




O Passarinho, e um camarada que não consigo identificar devem ter ido à caça.



No Rio Coji, que passava a poucos quilómetros do quartel, em Lucunga, abundavam quer os jacarés, quer os hipopótamos, que observávamos com frequência, sobretudo na margem direita do rio. Os hipopótamos pastavam; os jacarés talvez estivessem a apanhar sol, ou a tentar caçar alguma presa desprevenida.

Aqui, temos o Passarinho com uma cria de jacaré.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A Boleia do Chico Nazaré


Quibala

(Foto de autor desconhecido)

Depois de ter gozado dez dias de férias em Luanda, regressei à Gabela faz hoje 45 anos.

O transporte público entre a Gabela e Luanda consistia numa carreira diária de autocarro, que além de demorar muitas horas, era extremamente desconfortável.

Na véspera da viagem para Luanda, procurei encontrar alguém que estivesse para fazer a viagem e me desse boleia. Não consegui, mas, para minha surpresa, quando no Café Central perguntei se alguém iria viajar no dia seguinte, o Sr. Barradas, proprietário de um stand de máquinas agrícolas (creio que também vendia automóveis, mas não tenho a certeza), pegou nas chaves e nos documentos do seu carro e estendeu-mos, pondo-o à minha disposição.

Não aceitando, embora, a oferta, não deixou de me sensibilizar a disponibilidade demonstrada por alguém que conhecia socialmente, mas com quem não tinha grande proximidade.

No dia seguinte fui no jeep que todas as quintas-feiras ia até à Quibala levar o correio militar. A Quibala era uma espécie de entroncamento rodoviário, e foi fácil conseguir uma boleia até Luanda.


Ilha de Luanda

(Foto de Ivo Cardoso)

Na véspera do meu regresso, corri as capelinhas em Luanda, de novo à procura de uma boleia. Tive mais sorte do que dez dias antes; pouco depois de iniciar a busca encontrei o gabelense Chico Nazaré, filho de um comerciante que acumulava com o cultivo de café, e que se prontificou a dar-me boleia, combinando o encontro para o dia seguinte às 14 horas, no Hotel Katekero, onde estava hospedado.

Compareci à hora marcada, mas do Chico nem sinal. O recepcionista informou-me que ele tinha regressado tarde na noite anterior, e que tinha pedido para o acordarem precisamente às 14 horas.

Meia hora depois desceu e convidou-me para ir comer qualquer coisa, para depois seguirmos.

Depois de comer chamou um táxi. E quando lhe perguntei onde tinha o carro, riu-se e respondeu que o tinha no Aeroporto. Ainda pensei que ele tivesse acabado lá a noite, no bar e, depois de bem bebido, tivesse voltado para o hotel de táxi, mas depois lembrei-me que ele tinha um pequeno avião, com o qual tinha disputado e ganho a Volta Aérea a Angola desse ano.



Luanda - Hotel Katekero

(Foto de autor desconhecido)

Chegados ao Aeroporto, lá estava o avião pronto para a viagem, que à excepção dos minutos que antecederam a aterragem, correu bem.

Sobrevoámos a reserva da Quiçama, onde ele desceu até uma altura que me deixou um bocado apreensivo, para que eu visse a fauna que ali abundava, mas que acabava por debandar espavorida com o barulho do motor.

Com o dia a avançar, e em África anoitece cedo e quase bruscamente, sem aquele anoitecer lento a que estamos habituados, ele receava que não fosse possível aterrar na Gabela por causa dos densos nevoeiros que cobriam a cidade com frequência. A alternativa era descermos em Porto Amboim, o que não me importava nada, já que aproveitava para abraçar os meus camaradas que ali estavam aquartelados.

Mas o dia estava suficientemente claro, e, depois de sobrevoar a cidade por duas vezes, dando sinal para o pai mandar uma viatura ao aeródromo, entreteve-se a dar umas cambalhotas, com o intuito de me fazer vomitar tudo o que eu tivesse no estômago. Ao pé daquilo, a montanha russa era uma brincadeira de meninos. Não conseguiu, todavia, os seus desígnios; fazendo das tripas coração, aguentei-me, não sei bem como, até o avião se imobilizar na pista. Mas ainda não estava bem parado e já eu saltava e corria para junto do hangar onde acabei por vomitar.


Gungas e Zebras na Reserva da Quiçama

(Foto de Ana Tendinha)

De qualquer forma, o Chico disse-me que eu tinha passado a prova.

Desta viagem tirei duas conclusões. Angola era mesmo um lugar especial. Em que lugar deste nosso Portugal poderia eu esperar, ainda por cima nessa época, que alguém com quem tinha relações meramente circunstanciais, pusesse o seu automóvel à minha disposição, ou que me desse uma boleia de avião?

Mas não deixei de ter um desapontamento nesse dia de S. Martinho: corri toda a cidade, mas não consegui encontrar uma loja onde houvesse castanhas à venda.

Lá se foi o projectado magusto às malvas!

domingo, 6 de novembro de 2011

Euclides Morais



O Morais Soares enviou-me recentemente quatro fotografias, cuja publicação inicio hoje, com a foto do Euclides Morais, que foi primeiro-cabo no 4º pelotão da CArt 738.

No texto que intitulei “Novas de Toronto” escrevi que ele tinha emigrado para o Canadá, onde o Morais Soares o tinha encontrado algumas vezes, embora não soubesse dele há muito tempo.

Entretanto, o Morais Soares contactou uma irmã do Euclides que o informou que este morrera há alguns anos, ao mesmo tempo que prometeu enviar-lhe uma fotografia do tempo em que esteve em Angola. É essa foto que encima este post.

Apesar da sua juventude, o Euclides Morais já era, na época em que prestou serviço militar, um profissional da construção civil de reconhecido mérito. Essas qualidades foram realçadas num comentário que o Sebastião Fagundes, que foi seu comandante de pelotão, fez ao texto acima referido:

Um viva pela chegada do Morais Soares. Dado o seu trato afável e normal boa disposição, penso que todos se lembram dele. Vamos folgar com a sua participação no próximo convívio.

Gostei de ter notícias,embora parcas, do Euclides Morais. Era 1º Cabo do meu pelotão e da secção do Miranda Dias. Era um competente profissional da construção civil e, por isso, esteve intimamente ligado às obras de reconstrução de Lucunga e à construção do monumento da companhia e de um utilíssimo forno. Por esta actividade não militar era, por vezes, poupado a determinadas operações o que não era muito bem visto por alguns (poucos) camaradas. Era muito bom moço.”


Além da importância do seu trabalho na melhoria das nossas condições de alojamento em Lucunga, referida pelo Sebastião Fagundes, a sua intervenção foi igualmente determinante na construção da “Casa do Soldado”, na Gabela.

Embora o 4º pelotão estivesse aquartelado em Porto Amboim, o Euclides Morais foi requisitado pelo comandante de Companhia e, durante o tempo que duraram as obras, permaneceu na Gabela.

Com este texto, porventura modesto para os seus méritos, quero prestar a minha homenagem ao Euclides.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

As Fotos do António Passarinho - II (ou o 1º sargento Ramalho)


Desde que escrevi em textos anteriores que o capitão Carvalho não perdia uma oportunidade de me “premiar” encarregando-me do cumprimento das tarefas extraordinárias, e quase nunca agradáveis, que iam surgindo, que tinha a intenção de trazer ao blogue o nosso 1º Ramalho, que julgo ter estado na origem das manifestações de “simpatia” do comandante da Companhia para comigo.

O 1º sargento Ramalho aparece duas vezes em duas das fotografias que o António Passarinho me mandou, cuja publicação iniciei no último post, o que me serve de pretexto para escrever sobre ele.

Em Outubro de 1965, vim de férias à Metrópole, como então era designado o Portugal europeu nos territórios ultramarinos. Duas ou três semanas antes da viagem, o 1º Ramalho perguntou-me se eu não me importava de trazer uma lembrança para a filha (pré-adolescente à época), que residia com a mãe algures no Alentejo, fazendo-a seguir por via postal a partir de Lisboa.


Em Lucunga, na messe de sargentos, com militares de outra Companhia (CCaç.715?)
Apenas identifico o 1º sargento Ramalho, à esquerda, em 2º plano, o 2º sargento Ruas, à cabeceira da mesa, o Passarinho, de pé, por trás do Ruas, o 2º sargento Ramiro, à esquerda do Ruas. Na mesa mais próxima do fotógrafo, o civil que olha para a objectiva é o comerciante Santos. Na mesa do fundo, do lado direito, a olhar para o lado, está o furriel-miliciano Azevedo.
(Identificações obtidas com a ajuda do alferes-miliciano Fagundes e do furriel-miliciano Morais Soares, a quem agradeço)

Respondi que não me importava, desde que a “lembrança” respeitasse duas condições: que não fosse muito volumosa, porque a minha mala de viagem era de tamanho médio, e eu próprio queria comprar lembranças em Luanda, além de trazer parte da roupa civil, que tinha levado e que não me fazia lá falta; e que não fosse muito pesada, porque só tinha direito a 20 kgs. de bagagem, no avião.

Poucos dias antes de eu viajar, e sem termos voltado a falar no assunto (eu até pensava que ele tinha desistido), mandou o 1º cabo escriturário, Ismael ao meu quarto, com a “lembrança”, que consistia num pacote com um tapete decorativo, que ocupava três quartos do espaço da mala.

Mandei o tapete de volta, com o recado de que a “lembrança” não correspondia às condições combinadas. Se o nosso 1º a quisesse substituir por outra de dimensões e peso mais razoáveis, tudo bem; se não, nada feito.

Nem o Ismael voltou, nem o 1º Ramalho voltou a falar na encomenda.


Em Lucunga, na messe 
A contar da esquerda, sentados: 1º sargento Ramalho, 2º sargento Ruas, 2º sargento Ferreira da Silva, furriel-milº Morais Soares e 2º sargento Ramiro; de pé: Passarinho e Daniel

Não falou, mas não se esqueceu. As nossas relações que nunca tinham sido propriamente amistosas, pioraram, embora sem atritos visíveis por terceiros.

De qualquer modo, durante o comando dos dois primeiros substitutos do Capitão Rubi Marques - o capitão Hélio Nunes Xavier, primeiro, e o tenente Simões da Silva, depois, com os quais tive um bom relacionamento - não tive motivos para supor que ele tivesse procurado influenciá-los negativamente em relação a mim.


Pouco depois da chegada do capitão Carvalho, apercebi-me de que o novo comandante estava de pé atrás no que me dizia respeito, sem que eu percebesse porquê.

Como todos os meus camaradas, eu tinha tarefas diárias no quartel, que cumpria, como sempre tinha feito. Além de fazer os serviços da escala (sargento de dia à unidade e sargento da guarda), dava, todos os dias úteis, aulas regimentais aos militares que não tinham completado a 4ª classe. Nos últimos dois meses tive o importante apoio do director da escola primária local, onde, com aproveitamento, acabariam por fazer exame.

Complementarmente, era monitor de desporto da Companhia, tarefa que não me absorvia muito tempo. No essencial, tinha de fazer um relatório mensal das actividades desportivas, que seguia para o Batalhão, onde julgo que ninguém o lia.

Não via, por isso, razão para a secura com que o novo comandante me falava. Até que um dos meus camaradas me disse que tomasse cuidado, porque o 1º Ramalho andava a “emprenhar o capitão pelos ouvidos”.

Nesse segundo ano de comissão, foram poucos os camaradas que vieram de férias à Metrópole. Alguns, para pouparem, não foram para parte nenhuma e ficaram na Gabela, continuando alojados no quartel, sem qualquer problema.

Também era normal a antecipação da apresentação, por conveniência de entrar numa determinada ordem (mais favorável) na escala de serviço.

Em 1 de Novembro de 1966, entrei de férias, tendo viajado para Luanda, onde fiquei 10 dias, findos os quais regressei à Gabela, onde cheguei na tarde do dia 11. O resto das férias seriam passadas em casa de familiares que residiam numa fazenda a 15 Kms. da cidade, mas nessa noite fiquei no quartel, dado o adiantado da hora.


Em Lucunga, na messe (Convívio com camaradas da CCaç 715)
Em primeiro plano, à esquerda, o furriel-milº Miranda Dias, a seguir (?), de camisa branca o furriel-milº Sousa, ao fundo, a meter algo na boca, o furriel-milº Mourão (?), furriel-milº Fonseca, furriel-milº Carvalho (CCaç 715), e mais perto da objectiva, o furriel-milº Vaz; ao fundo de pé, o Passarinho;

No dia seguinte, depois do pequeno almoço, o 1º Ramalho veio ter comigo dizendo-me que o comandante não me autorizava a ficar alojado no quartel, por estar de férias. Disse-lhe que não iria ficar, mas perguntei por que razão outros podiam e eu não. Respondeu que não sabia e que eram ordens do comandante.

Três dias antes do fim do mês, interrompi as férias, entrando de serviço no dia seguinte, o que me deixaria livre na passagem do ano. Fui ao render da guarda, entrei de sargento de dia, e qual não foi o meu espanto, quando, estando na secretaria a conversar com o Nunes da Silva, já perto do meio-dia, entra o 1º sargento, que me disse que tinha ido falar com o comandante, e que este decidira que eu não podia interromper as férias, pelo que também não podia estar de serviço. Todavia, fazia-me o favor de me deixar ficar a dormir no quartel.

Deu-me uma fúria, tirei a pistola do coldre, peguei-lhe pelo cano e, se não fosse o Nunes da Silva e o 1º cabo escriturário agarrarem-me, tinha-lhe dado uma coronhada na cabeça, tal era a minha raiva.

Acabei por abandonar o quartel, só voltei no fim da licença, e mais convencido fiquei da sua influência negativa (bem como da sua má consciência), quando constatei que do meu gesto impensado e grave não tinham resultado quaisquer consequências.

Depois de regressarmos, só encontrei o 1º Ramalho uma vez, em Lisboa, na Praça do Comércio. Estava colocado numa repartição do Ministério do Exército, e falou-me como se fôssemos amigos, sugerindo que, como eu trabalhava ali próximo, nos encontrássemos para almoçar. Deu-me, então, o seu contacto telefónico, que nunca utilizei.