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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

As Fotos do António Passarinho (I)





Embora todos os rostos me sejam familiares, apenas consigo identificar o Vítor Verdasca, 2º a contar da esquerda, atrás, o Passarinho, que está à sua frente, e o último, que julgo ser o Oliveira (a quem encontrei muitas vezes no Porto de Lisboa, onde era manobrador de empilhadores) . Todos eram condutores-auto.

Em Lucunga, as viaturas em condições de circular eram em número reduzido, pelo que a alguns condutores-auto da CArt 738 foram atribuidas tarefas que nada tinham a ver com a sua especialidade. Ao Passarinho, que era um desses condutores-auto, coube, juntamente com o camarada de especialidade, Daniel Ferreira, a nobre tarefa de pôr – e de manter – operacional a messe de oficiais e sargentos. O Daniel cozinhava, enquanto o Passarinho o apoiava, ao mesmo tempo que se encarregava, de forma irrepreensível, do serviço nas salas de refeições.

Podem ter-se perdido dois bons condutores-auto, mas garanto, sem receio de contraditório, que ganhámos dois excelentes “profissionais” do ramo da restauração, que, sob a supervisão do furriel-vagomestre Vaz, nos tiveram sempre bem alimentados.

Cumprindo uma promessa que me tinha feito, o Passarinho enviou-me algumas fotos desse tempo, cuja publicação inicio hoje, com duas fotos tiradas em Novo Redondo, no dia em que completámos dois anos de comissão.

Curiosamente, nessa data encontrava-me em Luanda, onde me tinha deslocado por duas razões.

Em Agosto de 1966, durante um jogo de futebol realizado no campo do quartel, fui atingido com violência no olho esquerdo, por uma bola chutada à queima-roupa por um dos jovens moradores da sanzala Sétima, de que resultou uma lesão permanente, com perda de visão, que viria a ser avaliada em 10% pelos médicos militares, mas que oftalmologistas civis avaliaram em 30%. Um dos motivos da minha estadia em Luanda, devia-se a uma consulta no Hospital Militar de Luanda, marcada para aquela data, que se destinava a avaliar o evoluir da lesão.

Nesta foto identifico o Oliveira (?), 2º a contar da esquerda, a seguir o enfermeiro, Espanhol, o 5º é o Lionídio Torcato, o 8º o Passarinho, e o 9º, mais abaixo, o Verdasca. Não me lembro dos nomes dos outros.

Aproveitando essa viagem, o capitão Carvalho encarregou-me (juntamente com um cabo e um soldado – de quem já não recordo os nomes –, bem como do condutor do Land Rover que nos transportou), de conduzir um dos nossos militares à Casa de Reclusão de Luanda, para cumprir uma pena de 3 anos de prisão a que a justiça militar o tinha condenado, por se recusar a casar com uma jovem com quem tinha mantido um relacionamento íntimo, quando ainda era civil.

Esta foi uma das tarefas mais espinhosas que desempenhei, não só durante os quatro anos e meio em que prestei serviço militar, mas também em toda a minha vida. Foi um momento muito penoso aquele em que o deixámos na prisão e nos despedimos dele.


Era um jovem educado, e na Companhia todos lamentávamos a sorte que o esperava (causada por uma situação que, a acontecer hoje, não passaria de uma nota de pé de página na sua vida), mas, embora alguns de nós tentássemos convencê-lo a evitar a prisão, casando, compreendíamos e respeitávamos as razões que o levaram a preferir o longo período de prisão (julgado num tribunal civil nunca teria sido condenado a mais de dois anos de reclusão, na pior das hipóteses). Não voltei a ter notícias dele.


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

No quartel de Novo Redondo



Novo Redondo - Avenida Marginal

Em Novembro de 1966, os altos comandos militares tinham um problema bicudo para resolver: a escassez de efectivos ainda não tinha permitido que fosse efectuada a rendição do Batalhão que estava aquartelado em Nova Lisboa (salvo erro, o Batalhão de Artilharia 701), que já tinha completado 30 meses de comissão. O descontentamento do pessoal – que via os dias a passarem e eles sem embarcarem de regresso, como esperavam e era devido – era mais do que evidente, e receava-se que a situação se tornasse incontrolável.

Embora as comissões de serviço tivessem, oficialmente, a duração de 24 meses, na prática prolongavam-se por mais tempo. Era raro alguma unidade regressar antes de completados 26 meses, podendo mesmo continuar até aos 27 meses e, em casos excepcionais, até aos 28 meses. Trinta meses era um caso nunca visto.

Para resolver a embrulhada, foi decidido o alargamento parcial da área operacional de cada um dos Batalhões cujas zonas confrontavam com a zona de actuação do referido Batalhão, libertando desse modo aquela unidade, e possibilitando o seu regresso.

Em consequência dessa decisão, o comando do meu Batalhão (BArt 741), foi transferido para o Lobito, sendo substituido em Novo Redondo pelo comando da minha Companhia (Cart 738), conjuntamente com o 1º pelotão, ao qual eu pertencia.

Dificuldades logísticas impediram que a substituição do BArt 741 pelo comando da CArt 738 se fizesse simultaneamente, pelo que foi resolvido enviar uma secção reforçada com mais 5 elementos, mais o pessoal de apoio (cozinheiro, enfermeiro, condutor-auto, etc.), para ocupar o quartel provisoriamente.

A minha secção

Em baixo, a contar da esqª: João Palhares, Manuel Lopes, Brandão Pacheco e Albino Marinho;

Em cima (mesma ordem):Manuel Morgado, Carlos Fonseca, Casimiro Cerqueira e Armindo Pacheco;

Já aqui escrevi anteriormente como o capitão Carvalho, meu comandante de Companhia, gostava de me “premiar” com os serviços extraordinários que iam surgindo (a minha teoria sobre a origem dos seus “motivos” será objecto de outro texto). Também desta vez fui destacado para ir para Novo Redondo comandar este reduzido grupo. Tão reduzido, que nem sequer dava para colocar os habituais postos de sentinela. Durante o dia ficava um soldado de plantão à porta de armas. Durante a noite, a segurança duplicava: além do militar da porta de armas (já não de plantão, mas a fazer guarda normal, com rendição de 4 em 4 horas), colocava outro nas traseiras do quartel, com o mesmo regime de rendição, mas sem posto fixo.

Não me recordo durante quanto tempo durou esta situação um tanto ridícula (o comandante militar da capital do distrito era um furriel-miliciano), mas julgo que se terá prolongado por duas semanas, pelo menos.

Duas semanas que não foram inteiramente desagradáveis. O quartel ficava situado perto da praia (a distância não ultrapassaria os 400 metros), e todas as manhãs o pessoal que não tinha tarefas distribuidas, ia para a praia fazer exercício, dar uns pontapés na bola e, claro, tomar banho.

Foi numa dessas manhãs que teve lugar, na praia, o episódio com o tenente-coronel Soares, que contei aqui.


Em exercícios, na praia de Novo Redondo

Quando, finalmente, o comando da Companhia e o meu pelotão chegaram, já eu estava completamente ambientado à cidade. Não estava era preparado para a surpresa que me esperava. O primeiro-sargento Ramalho (meu “grande amigo” desde Lucunga) disse-me que o capitão Carvalho, tendo em consideração o grande número de amizades que eu tinha feito na Gabela, decidira fazer-me um favor, e transferira-me para o 2º pelotão, que permanecia naquela cidade, pelo que era melhor começar a arrumar as minhas coisas para fazer a viagem de regresso.

Não me valeu de nada ter ido falar com o comandante, que manteve a decisão, confirmando que pensava que era isso que eu preferia, mas que não podia alterá-la, pois o meu camarada que me iria substituir podia sentir -se prejudicado, já que tinha ficado muito satisfeito com a transferência para Novo Redondo.

Na realidade, o que me aborreceu mais não foi ter voltado para a Gabela, cidade de que gostava, e onde realmente tinha alguns amigos; do que não gostei mesmo foi de ter mudado de pelotão, apesar de não ter nada contra o seu comandante, alferes Morgado, nem contra os restantes camaradas, pois tinha um bom relacionamento com todos eles. Mas o meu pelotão era o 1º, onde estivera desde a sua formação, e no qual permaneci em espírito durante o resto da comissão.

Mas, como se dizia na tropa “El-Rei manda marchar, não manda chover!”

Então, mesmo sem chuva, marchei para a Gabela.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

CISMI - Convívio



Encontrei num jornal de Loulé a informação que acima reproduzo, no pressuposto de que possa interessar a algum dos leitores.

Confesso que desconhecia o facto da existência deste tipo de encontros naquele que, durante mais de quatro meses, foi também o meu quartel. Numa rápida pesquisa no Google concluí que este não é o primeiro convívio de antigos militares que ali tem lugar.

Pelo contrário, abertos, tal como neste caso, a todos os militares que ali serviram, houve pelo menos outro em 2008.



CISMI – Vista parcial da Parada

Já em Maio deste ano, os militares do Curso de Sargentos Milicianos de 1961, ali comemoraram os 50 anos da sua incorporação.

Passam hoje 48 anos sobre a data do juramento de bandeira da 2ª incorporação de 1963, de que fiz parte.

Pouco me recordo da cerimónia, que teve lugar a uma sexta-feira. Apenas me lembro que, ao contrário do que esperávamos, não tivemos um período especial de folga antes de começarmos a especialidade. Na segunda-feira seguinte iniciávamos um novo ciclo. Nem o Villaverde Cabral, que se casou no dia seguinte, teve direito a licença de casamento.


Salto para o galho 
(a saltar de pernas abertas, este deve ter-se aleijado)

Embora dura e de grande exigência física, não tive especiais dificuldades durante a instrução, se exceptuar as primeiras experiências no pórtico.

Nem o salto para o galho, que era o papão com que os amigos mais experientes nos assustavam, foi difícil. Bastava termos cuidado e saltarmos de pés juntos, para não chocarmos no poste com partes mais sensíveis do corpo. O que paralisava alguns camaradas na plataforma, antes de saltar, era o medo de cair no vazio. Quando conseguiam o primeiro salto, não havia mais problemas. Se não conseguiam, passavam à categoria de “Amélias”.


Pórtico


O meu problema com o pórtico (que era também o problema de outros), era causado pelas vertigens que me apoquentavam quando subia a um ponto alto, sem apoio. Fazer ginástica e correr naquelas vigas a pelo menos 4 metros do chão e que não teriam mais de 40 centímetros de largura, era assustador.

Tive – eu e os outros – a sorte de ter a compreensão, e a paciência, do alferes Jónatas, que comandava o pelotão, que me deixou “ambientar” aos poucos. Quando, em Dezembro, acabei o CSM, as vertigens tinham desaparecido e eu corria e saltava lá em cima, sem qualquer problema.


CISMI - Porta de Armas