Sede da Associação Recreativa do Amboim, pós-independência, em ruinas
Sede do ARA, reconstruida
A Associação Recreativa do Amboim, habitualmente designada pela população como o ARA, era a principal agremiação associativa da Gabela, estando a sua actividade voltada, não só para a componente recreativa que justifica o seu nome, mas também, e não menos importante, para a desportiva.
Quando a CArt 738 chegou ao quartel da Sétima, na Gabela, vivia-se na cidade um clima de grande euforia, porque a equipa de futebol do ARA tinha subido ao principal escalão do futebol angolano.
Dessa equipa faziam parte alguns militares da Companhia que fomos render, tendo ficado na Gabela e no ARA , depois de desmobilizados, três desses camaradas: o Cipriano, avançado-centro (como então se chamava ao actual ponta de lança) de grande qualidade, que era muito popular, sobretudo entre a juventude feminina local, o Júlio e o Carlos Afonso. Estes dois, além da ligação ao futebol do ARA, continuaram na Gabela por razões do coração, tendo o Júlio casado com uma moça gabelense, nesse ano de 1966.
Pouco depois de nos termos instalado, apareceu no quartel um dirigente do ARA, o Sr. Carpinteiro, responsável pela secção de futebol, que vinha convidar a equipa da Companhia para disputar com o ARA um jogo amigável, que serviria de treino, no campo da Aricanga, onde jogava o clube.
O que nós não sabíamos ao aceitar o convite, era que do desempenho nesse jogo – que o ARA venceu por 3-1 – viria a resultar um convite a metade da equipa da CArt 738, para fazer parte do quadro de jogadores do ARA.
Campo da Aricanga (esta bancada não existia em 1966)
(Foto de Rui Santos)
Apesar dos reforços, praticamente profissionais, que o clube tinha contratado para fazer face às exigências da nova realidade desportiva – com alguns nomes sonantes ao nível regional, dos quais se destacava além do Juca, um defesa-central, salvo erro do Portugal de Benguela, que tinha impressionado de tal modo os responsáveis da Académica de Coimbra contra quem jogou durante uma digressão desta equipa por Angola e Moçambique, que integrou a equipa durante os restantes jogos dos academistas, o guarda-redes Lima, do Sporting do Lobito – o Oliveira, o Rebelo e o Peixoto, eram presença efectiva nos jogos que o ARA disputou até ao fim da nossa comissão de serviço.
Além destes camaradas, fizeram parte da equipa, o guarda-redes Custódio – que na minha opinião (e não só) era melhor do que o Lima, mas havia que justificar o custo da transferência deste, bem como o seu vencimento mensal, enquanto o Custódio era totalmente amador – o Resende, o Brandão Pacheco, e eu próprio (para minha surpresa, que até saí, lesionado, durante a segunda parte do referido jogo-treino).
Nessa época, o ARA viria a fazer um campeonato surpreendente, com resultados inesperados, como, por exemplo, a vitória sobre o ASA – então o campeão crónico de Angola – em Luanda, ou empate, também em Luanda, com a forte equipa do Futebol Clube de Luanda.
Vivia-se, por isso, um período de grande euforia desportiva, na Gabela, com muitos gabelenses a encherem o campo da Aricanga, ou a acompanharem a equipa nas suas deslocações.
Ringue do ARA, situado nas traseiras da sede.
Aqui disputavam-se os jogos dos torneios de futebol de 5
A vertente recreativa do clube consistia, sobretudo, na realização de animados e concorridos bailes.
No ano de 1966 quase todos os bailes foram abrilhantados por um conjunto musical local, de cujo nome não me recordo, lamentavelmente. Mais lamentável ainda porque me recordo perfeitamente da depreciativa designação da autoria de um dos meus camaradas, quiçá injustamente, e pela qual passámos a nomeá-lo: “Toca toca, que hás-de aprender!”
Nem sequer o nome do seu simpático vocalista, me ficou, embora a minha perversa memória não tenha esquecido que lhe chamávamos “Conde de Mont'Ana”.
Irreverências que a juventude talvez ajudasse a explicar.
E, a propósito dos bailes do ARA, quero deixar expresso, como forma de reconhecimento, um exemplo da generosa hospitalidade com que fomos recebidos pelos gabelenses.
No primeiro baile, descobrimos, quando entrámos, que havia ceia, com acepipes que cada família trazia de casa, sendo as bebidas fornecidas pelo bar do clube.
Sem família, nem casa, eu e alguns dos meus camaradas presentes no baile, ocupámos uma mesa, onde, solitárias, apenas tínhamos as imprescindíveis Cuca ou Nocal, enquanto, em redor, as mesas se iam enchendo com as vitualhas confeccionadas nas cozinhas locais.
Mas a solidão das nossas cervejas duraria pouco. Não tardou que a mesa se fosse compondo, fruto da solidariedade geral, que acabou por encher a nossa mesa de petiscos em quantidade bem maior do que aquela que éramos capazes de consumir (apesar de, nesse tempo, o estômago de alguns de nós parecer furado. Sobretudo se nos agradava o que vinha para o prato.)
Este não foi um caso isolado. Sempre que havia baile, com ceia, já sabíamos que não precisávamos de forrar muito o estômago ao jantar. Havia que deixar espaço.
Mas o mais divertido era o baile propriamente dito, bem como o excepcional ambiente daqueles serões.
É certo que os nossos 23 ou 24 anos também ajudavam. E de que maneira!
Vi tudo isso até as ruinas em 96 até 2008
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