Vista panorâmica de Porto Amboim
Tinha
planeado escrever hoje um texto sobre Porto Amboim onde estive
durante um mês por troca com o Miranda Dias, que, tendo a profissão
de desenhador da construção civil, foi para a Gabela para fazer o
projecto para a construção da Casa do Soldado.
Escolhidas
as fotografias para ilustrar o post, e chegada a hora de
começar a escrever, descubro que o baú da minha memória está
quase vazio no que se refere a essa estadia, com a agravante de que
tenho consciência de que gostei de lá estar, e de ter sido muito
bem recebido por todos os meus camaradas.
Sei
que estive lá no tempo do cacimbo (portanto, entre Maio e Outubro de
1966), porque na praia não havia veraneantes durante os meus
passeios de fim da tarde, quase diários, na companhia do Fernando
Babo.
Porto Amboim - Ponte cais
Em
Porto Amboim estava destacado, desde a nossa chegada ao Quanza-Sul, o
4º pelotão da CArt 738, sob o comando do alferes-miliciano
Sebastião Fagundes, que tinha como comandantes de secção o
segundo-sargento Ramiro, e os furriéis-milicianos Miranda Dias e
Fernando Babo.
A
localidade era, então, uma pacata vila piscatória onde, de vez em
quando, aportavam navios da marinha mercante nacional, que fundeavam
ao largo, por falta de cais acostável.
Lembro-me
de ter ido, acompanhado pelo alferes Fagundes e pelo furriel Babo
(creio que o Ramiro não foi), fazer uma visita de cortesia a uma
família que fazia parte dos notáveis locais, constituida por um
casal com uma filha ainda jovem, onde nos foi servido um chá, num
requintado serviço de fina porcelana. Confesso que, na oportunidade,
me teria sabido melhor uma ou duas Cucas fresquinhas.
Porto Amboim - Baía
Não
me recordo do nome dessa família. Se não me falha a memória, o
dono da casa era filho de um conhecido empresário da província do
Quanza-Sul.
Durante
essa estadia, durante um jogo de futebol de cinco, tive de sair do
campo com uma violenta dor no peito do pé, que eu julgava fruto de
algum choque ou entorse, coisa natural durante as incidências do
jogo.
O
alferes Fagundes sugeriu que fosse à “consulta” de um
especialista local – um mulato chamado Quitério - que depois de
apalpar o pé concluiu que eu tinha “as linhas do pé trocadas”,
mas que ia remediar isso, o que fez massajando repetidamente com uma
substância oleosa previamente aquecida.
Porto Amboim - Marginal
Senti
algumas melhoras, mas não voltei a jogar durante a minha permanência
em Porto Amboim, porque a recuperação foi lenta. O máximo que
consegui, foi arbitrar dois ou três jogos, suficientes para perceber
que a arbitragem não era a minha vocação, tantas foram as
reclamações das equipas. Pelo menos era imparcial, já que errava
para os dois lados.
E
é tudo. Resta-me a esperança de que o Sebastião Fagundes leia
isto, e faça um dos seus habituais comentários, que acabe por
valorizar (e justificar) a publicação deste texto.
Ou
então (e ainda melhor) que resolva escrever um ou mais textos, tendo
Porto Amboim como tema, que terei todo o prazer em publicar. Fica o
convite.
Vera Cruz no Cais da Rocha, em 9 de Janeiro de 1965, pouco antes da partida
P.S.
- Em 9 de Janeiro de 1965 – completam-se hoje 47 anos –
embarcaram no navio Vera Cruz, no Cais da Rocha Conde d' Óbidos, com
destino a Angola, três Batalhões e algumas Companhias
independentes, totalizando quase 3.000 militares.
Entre
eles encontrava-se o Batalhão de Artilharia 741, de que fiz parte.
Nem
todos os que embarcaram regressaram connosco, 27 meses depois, porque
a morte abreviou a sua ainda curta vida.
Lembrá-los,
nunca é demais. É o que faço, hoje, aqui.
Caríssimo Carlos Fonseca:
ResponderEliminarGrato pela lembrança daqueles que não puderam regressar connosco, que é coisa que me toca especialmente, como sabe.
Confesso que a data me escapou e, o que é pior, me escapa habitualmente. Não está gravada na minha memória pois não embarquei nessa altura! Estava, então, como já referi várias vezes, internado no Hospital Militar do Porto. Ainda bem que o Carlos Fonseca a vai relembrando, pois ela é, tal como a do nosso regresso, obviamente marcante no historial do nosso Batalhão.
Um grande abraço do
Silva Pereira
Meu bom amigo,
ResponderEliminarGrato pelo seu comentário, quero salientar que basta ler o que tem escrito, para não ignorar a sensibilidade com que evoca os nossos mortos, tema a que, creio, nenhum dos nossos camaradas é indiferente, cada um a seu modo.
Também por isso, achei que não devia passar esta data sem trazer aqui a sua recordação. É igualmente uma forma de renovar a homenagem que lhes devemos.
Um abraço do
Carlos Fonseca