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sábado, 5 de fevereiro de 2011

Os aerogramas





Na situação de isolamento em que nos encontrávamos (ainda estava longe a era da Internet e dos telefones-satélite) enviávamos e recebíamos correspondência duas vezes por semana, por norma às terças e quinta-feiras. Por vezes à sexta, se o Nord Atlas  (“barriga de ginguba”, na gíria da tropa) da Força Aérea alterava o dia da escala no Aeródromo do Toto.


Quando a coluna do reabastecimento com o correio chegava, ao fim do dia - ou já de noite, se no tempo das chuvas alguma viatura se tinha atolado no caminho - todo o pessoal se reunia para receber o correio. Era sempre um momento de contraste entre a alegria dos contemplados e a tristeza daqueles a quem ninguém escrevera.


Notícia publicada no Diário Popular, em 2 de Agosto de 1961


A maior parte da correspondência era constituída por aerogramas, criados por iniciativa do Movimento Nacional Feminino (MNF), que também procedia à sua distribuição. 

Porém, as pequenas quantidades entregues mensalmente ao pessoal, eram geralmente insuficientes para as necessidades, pelo menos na nossa Companhia em que cada militar recebia cinco aerogramas por mês, salvo erro.


Uma das versões dos aerogramas


É certo que alguns não os usavam em toda a correspondência, em parte porque o espaço para a escrita era restrito, e em parte porque para alguns remetentes preferiam enviar cartas, embora tivessem de pagar os blocos, os sobrescritos e os selos.

Tendo pertencido a este último grupo, distribuía os meus aerogramas pelos camaradas da minha secção.

Quando em Outubro de 1965 vim passar um mês de férias a Portugal prometi ao meu pelotão que, no regresso, lhes levaria uma boa quantidade de aerogramas, que iria comprar à sede do MNF, em Lisboa.

E assim fiz. Fui atendido por uma senhora que, depois de lhe explicar a situação e de lhe expor a minha pretensão de levar mil aerogramas para distribuir pelo pessoal, ficou muito atrapalhada, dizendo-me que não era possível fazer uma entrega tão grande porque a distribuição era feita por canais próprios. E acabou dizendo: "Já viu o que era se fossemos dar mil aerogramas a todos os militares que vêm de férias?"  

Quando lhe respondi: "Mas, minha senhora, eu não quero que mos dê, quero pagá-los", respondeu logo: "Ah! Então pode levar os que quiser!"


Aerograma alusivo à quadra natalícia


Paguei duzentos escudos e lá levei os aerogramas, para alegria do "meu" pessoal e de alguns mais a quem foi alargada a distribuição, e que durante algum tempo não precisaram de fazer racionamento.

Os aerogramas tiveram várias versões, como se pode constatar pelas imagens.


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