Quando
escrevi sobre as peripécias da
viagem do Vera Cruz a caminho de Luanda, referi que os nossos serões
eram animados, alternadamente, com uma sessão de cinema, ou com a
exibição de um conjunto musical, que então defini como fracote.
Constituído por meia dúzia de músicos mais habituados a tocar bailes de sociedades
recreativas, eram entre nós alvo de comentários depreciativos,
porventura injustos e de alguma arrogância, que apenas a verdura da
juventude podia explicar, que não justificar.
Numa noite em que talvez já houvesse álcool a mais,
um camarada de outro Batalhão “pediu” ao baterista para tocar um
solo. O pobre homem, a quem estava ser pedido demasiado para as suas
capacidades, foi-se escusando, com desculpas, cada uma menos convincente do que a anterior.
Entretanto, ao peticionário inicial juntaram-se mais alguns, não já
a pedir, mas a exigir o tal solo.
Muitos
de nós perceberam que, a partir de certa altura, o baterista estava
a sentir-se humilhado e confuso, e antes que as coisas dessem para o
torto (mais do que já estavam a dar) resolvemos intervir, convencendo os mais exaltados a deixarem o homem em paz.
E,
se não posso dizer que tudo acabou em bem, porque o ambiente ficou
um pouco turvo no resto do serão, a verdade é que não voltaram a
registar-se situações semelhantes.
Lembrei-me
disto hoje, porque me mandaram o vídeo que podem ver abaixo.
Se
a Companhia Colonial de Navegação, proprietária do navio, tivesse
puxado pelos cordões à bolsa, e tivesse contratado um baterista
como este, nem precisava dos outros músicos, e ainda poupava
dinheiro.
O
homem é um verdadeiro “entertainer”, que, sozinho, era capaz de
animar os três mil passageiros daquela viagem.
Caro Fonseca:
ResponderEliminarNão haja dúvida! Nunca vi nada assim.
Um abraço
Silva Pereira