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terça-feira, 14 de junho de 2011

Na Gabela




Vista parcial da Gabela, com o Hotel Guaraná meio encoberto pelas árvores
(À esquerda, a piscina Municipal)

Não me recordo qual era a Companhia que fomos substituir na Gabela, mas recordo-me da carta que o seu comando nos enviou para Lucunga, e que nos sensibilizou tanto como a recepção que foi feita pela CCaç 715, na primeira vez que passámos na Missão do Bembe e de que falei aqui.

Resumindo, a carta começava por fazer uma descrição da cidade que iria ser a nossa durante os doze meses seguintes.

Recordo-me que uma das informações dizia respeito, para nossa surpresa, ao elevado número de bares existentes na cidade. Associando o termo “bares” ao ambiente do Cais do Sodré, em Lisboa, interrogávamo-nos como é que uma cidade pequena teria clientela para “muitos bares”? E foi uma das primeiras explicações que pedimos aos camaradas, já na Gabela, ainda antes de conhecermos o meio. A resposta era simples; os cafés lá, eram designados por bares. O bar do Sporting, o bar do Cine-Amboim, etc.

Porém, a parte mais importante da missiva era constituida, claramente, pela preocupação que os nossos camaradas da Gabela pareciam ter com o nosso conforto, durante a semana de transição de uma Companhia para outra.


O "Bar" Esmeralda, na Gabela, é um vulgar café

Perante a impossibilidade de fornecerem alojamentos apropriados para os oficiais e sargentos no quartel, tinham conseguido preços muito favoráveis em dois hoteis da Gabela: o Avenida, para os oficiais e o Guaraná, para os sargentos. Eles próprios se encarregariam de fazer as reservas para quem estivesse interessado, depois de receberem a nossa resposta.

Creio que todos os oficiais aceitaram a sugestão, bem como a maioria dos sargentos. Recordo-me que, à excepção da primeira noite, partilhei um quarto com duas camas durante toda a semana. Com quem, é que já não me lembro.

Nessa primeira noite fui dormir na casa principal de uma roça de café da CADA – Companhia Angolana de Agricultura (a roça Giraul).

A CADA era então uma das maiores companhias agrícolas de África - se não a maior - e era proprietária, essencialmente, de roças de café, palmar e sisal. Quis o acaso que um dos meus primos fosse o encarregado da roça acima referida, cujas instalações – residências, armazéns, etc. - ficavam situadas junto à estrada Gabela/Novo Redondo, a cerca de 15 kms. da Gabela. Sabendo que eu ia ser colocado nesta cidade, pôs alguém a vigiar a estrada, à espera da passagem da coluna que ia para Novo Redondo. Quando o comboio de viaturas passou, ficou a saber que eu também já tinha chegado.


Residências de trabalhadores da CADA, na Boa Entrada

(A Boa Entrada, era oficialmente uma roça da CADA. Na realidade, era uma pequena cidade, sede da Companhia, onde se vivia com todo o conforto das restantes cidades angolanas. Tinha hospital, clube recreativo - com cinema, piscina e salão de baile -, colégio para os primeiros anos de escolaridade e aeródromo, entre outras comodidades)

Meteu-se no carro e foi à minha procura ao quartel. Entretanto, na roça já se tinham iniciado os preparativos para o churrasco de galinha à angolana, e estava um quarto à minha espera. No dia seguinte, antes do início dos trabalhos na roça – cedo, portanto – viria trazer-me ao quartel.

Confiante no bom acolhimento do capitão Hélio Xavier, com quem tinha um excelente relacionamento, resultado em grande parte do reconhecimento da minha disponibilidade para brincar com os filhos nas horas vagas, (“quem meus filhos beija, minha boca adoça”) fui pedir-lhe autorização para me desenfiar, até à manhã do dia seguinte. Deferido o pedido, passei pelo hotel para fazer o “check-in” , avisar que não ia dormir nessa noite e deixar a bagagem no quarto, e segui para a Giraul ao encontro do resto da família, e de um dos melhores churrascos de sempre.

No dia seguinte, dia de Carnaval, antes das oito horas, estava no quartel, pronto a iniciar uma nova etapa.

Recordações e impressões deste primeiro dia – bem como dos seguintes – serão contadas nos próximos textos.

2 comentários:

  1. Como gabelense,foi um prazer estar aqui a deliciar-me com o passado.Grata.

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    1. Agradeço o seu comentário.

      Nos 12 meses que passei na Gabela, nem todos os dias o caminho foi enfeitado com rosas. Mas posso garantir que foram 12 meses inesquecíveis. E as melhores recordações ficaram por contar neste blogue, porque não me pertencem inteiramente.

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