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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Só Roupa, ou Roupa e Pés?


Gabela - Lavadeiras no rio Mazungue


Tanto quanto me recordo, em Lucunga não haveria mais que cinco ou seis lavadeiras a tratar da nossa roupa.

Na Gabela, o caso mudou de figura. Pode dizer-se que cada um dos interessados podia escolher uma lavadeira com carácter de exclusividade.

Tínhamos sido postos ao corrente desta particularidade, logo nos primeiros contactos com os camaradas que estavam de partida, por terem terminado a comissão de serviço.

De facto, logo no segundo dia apareceram no quartel várias mulheres, a maior parte com pouco mais de vinte anos, quase todas moradoras na sanzala Sétima, a oferecer os serviços da sua especialidade.

Antecipadamente prevenidos, não ficámos surpreendidos quando, ao negociarmos o valor da mensalidade a pagar pelo trabalho, a resposta era antecedida pela pergunta sacramental:

É só para lavar a roupa, ou o meu furriel quer roupa e pés?”


Novo Redondo - Lavadeiras no rio N'Gunza

Normalmente, a quantia a desembolsar pela “lavagem de roupa e pés” era sensivelmente o dobro da simples lavagem de roupa, o que não impediu que um significativo número de camaradas optasse pelo “serviço” completo. Aliás, havia meses em que o valor acordado tinha que ser reforçado, quando a lavadeira aparecia no quartel a entregar a roupa e dizia que já não tinha dinheiro para comprar mais carvão. E lá iam mais uns trocos. Merecidos, de resto, que as roupas andavam sempre impecáveis.

Num blogue bem comportado, como é o caso deste, não é fácil explicar em que consistia a “lavagem de pés”. Porém, para quem leu o post que aqui publiquei, oportunamente, elucido que, grosso modo, se tratava de uma função muito semelhante à da “Lisette”.

Também desta vez, o nosso “Mendonça” foi protagonista de um momento de humor, que resultou de um compreensível equívoco. Quando chamou uma das lavadeiras e lhe perguntou quanto queria receber para lhe lavar a roupa, ela, por sua vez, perguntou-lhe com o ar mais inocente deste mundo:

É só para lavar a roupa, ou quer roupa e pés?”

Não tenho, nem o engenho nem a arte necessários para descrever com realismo a expressão meio espantada, meio envergonhada, do “Mendonça” quando, de rosto vermelho e muito atrapalhado, respondeu:

Não! Não! Nem pensar! Só roupa, eu sou casado!”

Escusado será dizer que as gargalhadas dos circunstantes estalaram de imediato, e o episódio foi motivo para as mais diversas piadas, nos dias seguintes.

Coisas do género: “ Ó “Mendonça” tens os pés sujos?”


Nota: Embora o episódio relatado seja verídico, “Lisette” e “Mendonça” são nomes fictícios

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