Pesquisar neste blogue

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

No quartel de Novo Redondo



Novo Redondo - Avenida Marginal

Em Novembro de 1966, os altos comandos militares tinham um problema bicudo para resolver: a escassez de efectivos ainda não tinha permitido que fosse efectuada a rendição do Batalhão que estava aquartelado em Nova Lisboa (salvo erro, o Batalhão de Artilharia 701), que já tinha completado 30 meses de comissão. O descontentamento do pessoal – que via os dias a passarem e eles sem embarcarem de regresso, como esperavam e era devido – era mais do que evidente, e receava-se que a situação se tornasse incontrolável.

Embora as comissões de serviço tivessem, oficialmente, a duração de 24 meses, na prática prolongavam-se por mais tempo. Era raro alguma unidade regressar antes de completados 26 meses, podendo mesmo continuar até aos 27 meses e, em casos excepcionais, até aos 28 meses. Trinta meses era um caso nunca visto.

Para resolver a embrulhada, foi decidido o alargamento parcial da área operacional de cada um dos Batalhões cujas zonas confrontavam com a zona de actuação do referido Batalhão, libertando desse modo aquela unidade, e possibilitando o seu regresso.

Em consequência dessa decisão, o comando do meu Batalhão (BArt 741), foi transferido para o Lobito, sendo substituido em Novo Redondo pelo comando da minha Companhia (Cart 738), conjuntamente com o 1º pelotão, ao qual eu pertencia.

Dificuldades logísticas impediram que a substituição do BArt 741 pelo comando da CArt 738 se fizesse simultaneamente, pelo que foi resolvido enviar uma secção reforçada com mais 5 elementos, mais o pessoal de apoio (cozinheiro, enfermeiro, condutor-auto, etc.), para ocupar o quartel provisoriamente.

A minha secção

Em baixo, a contar da esqª: João Palhares, Manuel Lopes, Brandão Pacheco e Albino Marinho;

Em cima (mesma ordem):Manuel Morgado, Carlos Fonseca, Casimiro Cerqueira e Armindo Pacheco;

Já aqui escrevi anteriormente como o capitão Carvalho, meu comandante de Companhia, gostava de me “premiar” com os serviços extraordinários que iam surgindo (a minha teoria sobre a origem dos seus “motivos” será objecto de outro texto). Também desta vez fui destacado para ir para Novo Redondo comandar este reduzido grupo. Tão reduzido, que nem sequer dava para colocar os habituais postos de sentinela. Durante o dia ficava um soldado de plantão à porta de armas. Durante a noite, a segurança duplicava: além do militar da porta de armas (já não de plantão, mas a fazer guarda normal, com rendição de 4 em 4 horas), colocava outro nas traseiras do quartel, com o mesmo regime de rendição, mas sem posto fixo.

Não me recordo durante quanto tempo durou esta situação um tanto ridícula (o comandante militar da capital do distrito era um furriel-miliciano), mas julgo que se terá prolongado por duas semanas, pelo menos.

Duas semanas que não foram inteiramente desagradáveis. O quartel ficava situado perto da praia (a distância não ultrapassaria os 400 metros), e todas as manhãs o pessoal que não tinha tarefas distribuidas, ia para a praia fazer exercício, dar uns pontapés na bola e, claro, tomar banho.

Foi numa dessas manhãs que teve lugar, na praia, o episódio com o tenente-coronel Soares, que contei aqui.


Em exercícios, na praia de Novo Redondo

Quando, finalmente, o comando da Companhia e o meu pelotão chegaram, já eu estava completamente ambientado à cidade. Não estava era preparado para a surpresa que me esperava. O primeiro-sargento Ramalho (meu “grande amigo” desde Lucunga) disse-me que o capitão Carvalho, tendo em consideração o grande número de amizades que eu tinha feito na Gabela, decidira fazer-me um favor, e transferira-me para o 2º pelotão, que permanecia naquela cidade, pelo que era melhor começar a arrumar as minhas coisas para fazer a viagem de regresso.

Não me valeu de nada ter ido falar com o comandante, que manteve a decisão, confirmando que pensava que era isso que eu preferia, mas que não podia alterá-la, pois o meu camarada que me iria substituir podia sentir -se prejudicado, já que tinha ficado muito satisfeito com a transferência para Novo Redondo.

Na realidade, o que me aborreceu mais não foi ter voltado para a Gabela, cidade de que gostava, e onde realmente tinha alguns amigos; do que não gostei mesmo foi de ter mudado de pelotão, apesar de não ter nada contra o seu comandante, alferes Morgado, nem contra os restantes camaradas, pois tinha um bom relacionamento com todos eles. Mas o meu pelotão era o 1º, onde estivera desde a sua formação, e no qual permaneci em espírito durante o resto da comissão.

Mas, como se dizia na tropa “El-Rei manda marchar, não manda chover!”

Então, mesmo sem chuva, marchei para a Gabela.

Sem comentários:

Enviar um comentário

O seu comentário será publicado oportunamente