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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O Baterista



Quando escrevi sobre as peripécias da viagem do Vera Cruz a caminho de Luanda, referi que os nossos serões eram animados, alternadamente, com uma sessão de cinema, ou com a exibição de um conjunto musical, que então defini como fracote.

Constituído por meia dúzia de músicos mais habituados a tocar bailes de sociedades recreativas, eram entre nós alvo de comentários depreciativos, porventura injustos e de alguma arrogância, que apenas a verdura da juventude podia explicar, que não justificar.

Numa noite em que talvez já houvesse álcool a mais, um camarada de outro Batalhão “pediu” ao baterista para tocar um solo. O pobre homem, a quem estava ser pedido demasiado para as suas capacidades, foi-se escusando, com desculpas, cada uma menos convincente do que a anterior. Entretanto, ao peticionário inicial juntaram-se mais alguns, não já a pedir, mas a exigir o tal solo.

Muitos de nós perceberam que, a partir de certa altura, o baterista estava a sentir-se humilhado e confuso, e antes que as coisas dessem para o torto (mais do que já estavam a dar) resolvemos intervir, convencendo os mais exaltados a deixarem o homem em paz.

E, se não posso dizer que tudo acabou em bem, porque o ambiente ficou um pouco turvo no resto do serão, a verdade é que não voltaram a registar-se situações semelhantes.

Lembrei-me disto hoje, porque me mandaram o vídeo que podem ver abaixo.

Se a Companhia Colonial de Navegação, proprietária do navio, tivesse puxado pelos cordões à bolsa, e tivesse contratado um baterista como este, nem precisava dos outros músicos, e ainda poupava dinheiro.


O homem é um verdadeiro “entertainer”, que, sozinho, era capaz de animar os três mil passageiros daquela viagem.