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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Na Missão do Bembe




As fotografias que acompanham este texto foram-me enviadas pelo antigo furriel-miliciano da Companhia de Caçadores 715 (CCaç 715), Carlos Cristóvão.

Na mensagem que as acompanhava, o Cristóvão escreveu que não tinha a certeza se a foto acima era da nossa Companhia (CArt 738), tirada quando passámos pela primeira vez na Missão a caminho de Lucunga, ou se seria da Companhia que os foi render quando a CCaç 715 foi transferida para o Leste de Angola.

Apesar da distância a que se encontrava o fotógrafo, e da consequente má definição dos rostos, parece-me que a fotografia retrata o 2º e o 3º pelotões da CArt 738, e que teve realmente lugar nas circunstâncias referidas pelo Carlos Cristóvão, porque julgo que consigo identificar cinco dos retratados.

Assim, o militar assinalado com o nº 1, é o comandante de Companhia, capitão Rubi Marques. Apesar de se encontar de costas para a objectiva, quer a posição muito peculiar dos braços, quer a do corpo, bem como a inclinação da cabeça, eram características que permitem a sua identificação, quase como se fossem as suas impressões digitais.

Com o nº 2, identifico o alferes-miliciano Francisco Morgado, comandante do 2º pelotão. O nº 3 é o alferes-miliciano Vítor Casimiro (dono de uma excelente voz e especialista do fado de Coimbra), comandante do 3º pelotão. O nº 4 é o furriel-miliciano José Rodrigues, comandante da 2ª secção, do 2º pelotão. Finalmente, o sargento Ferreira da Silva, comandante da 1ª secção, do 2º pelotão, é o nº 5.

Ao fundo, podem ver-se alguns dos camiões onde, “confortavelmente”, viajámos de Luanda para Lucunga, durante dois dias.

Não consigo identificar mais nenhum dos meus antigos camaradas. Se algum dos leitores o conseguir e me quiser informar, agradeço.



A outra fotografia, que o Cristóvão diz referir-se aos preparativos para uma operação onde intervieram várias Companhias, entre as quais teria estado a CArt 738, deixa-me alguma perplexidade, porque ele escreveu que os militares que se encontram à esquerda, “equipados” com capacetes de ferro, pertenciam à minha Companhia, e que os capacetes teriam sido motivo para algum gozo por parte do pessoal das outras unidades .

Ora, acho improvável que seja pessoal da CArt 738, não só porque nunca, antes ou depois, estive em nenhuma operação em que tivessemos usado capacetes (que, de resto, eram completamente inadequados ao tipo de actividades que levávamos a cabo), mas também porque nem sequer me lembro de alguma vez ter visto aquele material na nossa Companhia. Não estou a afirmar que não existiam, apenas digo que não tenho a menor ideia da sua existência (também neste particular, uma ajuda será bem-vinda).

Durante o período que estive em tratamento a uma fractura, no Hospital Militar, em Luanda, que coincidiu parcialmente com a estação seca, a CArt 738 esteve envolvida em várias operações conjuntas com outras unidades e, nalgumas, foram utilizados helicópteros para transporte de pessoal, como foi o caso desta, que pode ter coincidido com o referido período, o que explicaria que, se de facto lá esteve o nosso pessoal, eu não me recorde dela (mas, tendo ouvido relatos de outras operações dessa época, principalmente se o meu pelotão teve intervenção nelas, é estranho que não me falassem desta).

Há por aí alguém disponível para fazer luz sobre esta minha dúvida?

2 comentários:

  1. Caríssimo!

    Sobre a primeira fotografia nada posso testemunar, pois que fui para Lucunga uma semana após a Companhia, integrado numa "coluna civil". Parece-me, no entanto, que a sua "teoria da identificação" é bem plausível.
    Quanto à segunda, parece-me reconhecer três condutores da "nossa" CART 738. A saber: o militar (como dizia o Fur. Abreu) com a mão na anca será o 25, conhecido por "cavalo do mato"; a seguir, será o Lobo, mais conhecido por "cigano" (eu sei que ele não se incomoda com a alcunha); finalmente, mais à direita, será o Marova.

    Agora, sobre a magna questão dos capacetes:
    Haver, havia e foram utilizados. O meu Pelotão utilizou-os - melhor dizendo, transportou-os - numa operação no "Bilar Grande". Lembro-me que um dos camaradas deixou cair o seu capacete ao atravessar uma ponte improvisada sobre um rio. Como nessa operação houve tiroteio de parte a parte ("contacto com o IN", era assim que se escrevia nos relatórios) foi relativamente fácil justificar o sucedido sem lugar ao já famoso auto das passas.
    No que respeita à operação referida neste postal direi o seguinte: não participei nela, mas participei na sua preparação, nomeadamente na instrução dos saltos dos helis para o terreno. Utilizámos um muro perto da enfermaria, ao lado de um esguio mamoeiro, com cerca de três metros de altura. Os capacetes serviam para protecção das cabeças. Durante a operação eram transportados enfiando a fivela no cinturão. Não dava muito jeito, principalmente quando tinha de se correr. Mas enfim, o seguro morreu de velho...

    Um abraço

    Sebastião Fagundes

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  2. Fagundes,

    Mais um esclarecimento, que agradeço vivamente.

    Depois da luz que fez sobre os fotografados da segunda foto, sou levado a concordar consigo, mas só vou poder assinalá-los devidamente, dentro de duas semanas.

    Quanto aos capacetes: como escrevi no texto, não nego a sua existência na CArt 738; acontece que na minha memória foram apagados, e não me recordo de os ter levado para qualquer operação, sendo que, como escrevi, estive algum tempo afastado de Lucunga, o que pode explicar o que afirmei. Claro que se lá estivesse e a ordem fosse "levar capacete", que remédio tinha eu (podia sempre deixá~lo cair ao rio, quando passássemos a ponte). O seu comentário vem pôr os pontos nos "is"

    Reconheço a sua utilidade na protecção da cabeça, mas continuo a pensar que era preferível arriscar, a ter de andar dias e dias com aquele empecilho pendurado à cintura. Afinal de contas, também não usávamos colete anti-bala.

    Finalmente, quero reafirmar a minha gratidão pelos esclarecimentos que tem feito, contribuindo para melhorar o produto final.

    Um abraço amigo do

    Carlos Fonseca

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